sábado, 24 de maio de 2003

A IMPORTÂNCIA DA LUDICIDADE NA VIDA DO SUJEITO HUMANO


Algumas vezes já observei mães e educadoras dizendo “brinca direito menino”. Será que há precisão no brincar? Há uma relação de “passos a serem seguidos” numa livre brincadeira? Salvo os jogos de regras, que como o próprio nome já diz: são regrados, não há precisão nenhuma na brincadeira.
Ela é só isso. Um fim em si mesma, uma simples brincadeira. Sua base está verdadeiramente na ação de brincar e pronto.
O que pode existir é um rol de normas, tempo e espaço pré-determinados para que a brincadeira ocorra mas que são, na verdade, variáveis exteriores à brincadeira em si. O jargão “brinca direito menino”, está sempre relacionado à ausência de bagunça ou ruídos e, principalmente, roupa e brinquedos limpos, mas será que podemos interferir em brincadeira de criança?
No usufruto do “direito” de brincar a criança não precisa “brincar direito”. A polissemia do termo permite o trocadilho e a reflexão. Mesmo nos referidos espaços com normas e tempo pré-determinados – brinquedoteca, lojas infantis, consultórios psicológicas e psicopedagógicos, salas lúdicas escolares – a criança tem o direito de não “brincar direito”, o que não impede, de forma alguma, a interpretação, a reflexão e o planejamento de sua ação lúdica, por parte dos chamados adultos mais experientes.
Chegamos num ponto bastante discutido na área educacional – escolar ou não – a intencionalidade pedagógica perante à atividade lúdica infantil e a seriedade no tratamento ao tema, ou seja: quem tem de saber que brincadeira é coisa séria é o adulto, não a criança.
Essa manifestação humana, o BRINCAR, é altamente recomendada para a manutenção da SAÚDE MENTAL de crianças e adultos.
Brincar é plaisanter em francês, mesmo radical de prazer (plaisir), de agradável (plaisant). Divertimento e graciosidade são predicados da brincadeira.
Lúdico é ludique (que vem de ludere: ilusão) é o adjetivo que qualifica tudo o que se relaciona com o jogo ou brincadeira. É utilizado para caracterizar uma mentalidade, um comportamento ou ação que parece apresentar um ambiente ou evento no qual o real tem um estatuto semelhante ao que tem na brincadeira ou no jogo: de prazer, divertimento etc.
O Jogo é a própria atividade da criança pequena para “gastar energia”. Muda de natureza no decorrer de seu desenvolvimento. Pode ser: de imitação (projeção de desejos), de regras (jogo socializado, no qual o prazer está relacionado ao respeito às regras e às dificuldades a serem vencidas ou ao ganho que aprova a competição).
O jogo e a brincadeira são, com freqüência, percebidos pelo adulto como oportunidade de uma certa liberdade ou, de forma deturpada, como sendo contrário ao trabalho, recebendo por vezes a pecha de inútil.
A respeito da “inutilidade da infância” já falou Rubem Alves que, ao brincar “ninguém fica mais rico, nenhuma dívida é paga”, e isso é verdade realmente, ao ler o texto, nos fica a impressão de que o simples fato de estar brincando já é a “paga” de uma vida inteira.
Brincar é essencial à saúde física, emocional e intelectual do ser humano. Brincar é coisa séria porque na brincadeira a criança (re)significa seu mundo, se reequilibra, recicla suas emoções e sacia sua necessidade de conhecer e reinventar a realidade.
Tudo isso desenvolve atenção, concentração e muitas outras habilidades, além de muito, muito prazer em viver e, para isso, a criança não precisa estar “brincando direito”.
Brincando a criança (re)significa seu mundo – universo já simbólico, posto que o início da capacidade de significar está nas palavras, mas antes, na brincadeira. Enquanto brinca a criança, o jovem ou o adulto experimenta a possibilidade de reorganizar-se internamente, de forma constante, pulsante, atuante e perene. É brincando que a criança vai interiorizando o mundo que a cerca, na troca com o outro, vai se constituindo SUJEITO.
A criança brincante vai constituindo-se SUJEITO humano, posto que simboliza o humus socialmente acumulado, pela capacidade de estar em momento de ócio, livre que é do negócio ou do negociável, tudo aquilo que nega o ócio. Pode não ganhar nada com aquilo, não pagar nada também mas, recebe muito... faz a “mágica que só o homem sabe fazer”: simbolizar, significar e ser significado.
Desde os tempos das cavernas, o homem já manifesta sua HUMANIZAÇÃO através do BRINCAR. Tal ato pode ser visto em suas pinturas rupestres, suas danças, suas manifestações de alegria. Na civilização atual, percebe-se a presença marcante da brincadeira na vida do homem: as piadas; a “paixão nacional” (futebol); os esportes em geral - o bilhar, o xadrez, a dança; o carnaval - fantasia e dança; o computador, a televisão; o teatro; o ato sexual... e até a política - brincadeira de quem pode mais, quem pode competir melhor. Todas estas são manifestações de que o HOMEM gosta e precisa do ato lúdico que o transcende.

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